A BOLSA E A VIDA: ECONOMIA E RELIGIÃO NA IDADE MÉDIA – JACQUES LE GOFF

Sinopse: O autor oferece com uma prosa ágil um verdadeiro tratado sobre a usura na Idade Média, demonstrando sob uma nova perspectiva a ligação entre os campos da economia e da religião, verdadeiros pilares sobre os quais se apoiavam as estruturas da época. O usurário, tão odiado quanto essencial, está associado a um dos sete pecados capitais: a ganância. Mesmo dormindo, seu dinheiro o torna mais rico, manifestando-se como um ladrão do tempo. Ele está irremediavelmente condenado ao inferno. No entanto, às vésperas da ascensão dos grandes movimentos econômicos do capitalismo moderno, a teologia medieval salva o usurário do inferno e inventa para ele uma morada um pouco menos fatal: o purgatório. Dessa forma, ele alcança seu duplo objetivo: manter a bolsa sem perder a vida eterna.

Resenha/Opinião: Jacques Le Goff é um autor e historiador francês especialista em história europeia e idade média que eu tive o prazer de descobrir por meio da Editora Vozes e sempre que a editora publica um livro dele, eu tento ler o quanto antes tamanho fascínio que tenho pelas obras do autor e agora não foi diferente. “A bolsa e a vida” foi publicado em 1986 e em 2022 recebeu uma edição no Brasil por meio da Vozes.

Le Goff inicia o seu livro explicando a relação entre o dinheiro e o inferno, entre a usura (contrato de empréstimo onde é cobrado juros) e o usurário (aquele que faz empréstimos, mais conhecido como agiota), relações estas ligadas diretamente, principalmente nos séculos XI e XIII, ou seja, período em que a influência da Igreja Católico no continente europeu era extremamente forte. A usura era vista por muitos na idade média como um monstro de várias cabeças e a cobrança de juros um ato que corrompe o ser humano, bem como um pecado (lucro sem trabalho), tendo em vista a passagem de Deuteronômio 23,20:
“Não exigirás de teus irmãos juro algum, nem por dinheiro, nem por víveres, nem por coisa alguma que se empresta a juros”.
Contudo, essa prática era vista por outros apenas como algo simplesmente ilícito ou proibido. Para Le Goff, usura e juros não são sinônimos, nem usura e lucro deve ser entendido como tal, pois a usura intervém onde não há produção ou transformação material de bens concretos.
“A bolsa e a vida” é um livro curtinho, não tem 100 páginas e nele o autor discorre a relação entre o dinheiro, empréstimo, fé, morte, inferno, purgatório e Igreja Católica, tudo relacionado ao período da Idade Média. Fica claro que o autor realizou profundas pesquisas para apresentar a sua tese, a sua visão sobre tais práticas.
Em suma, eu gostei de ver o comportamento do homem em relação ao dinheiro, o seu pensamento, a ideia que a Igreja tinha sobre o dinheiro e o empréstimo, o que era defendido e praticado naquele período. Outro aspecto interessante e até mesmo estarrecedor é que o homem daquele tempo deveria escolher entre a riqueza e a pobreza, o inferno e o céu, ideia que felizmente não existe mais. Recomendo o livro para todos que desejam conhecer um pouco mais sobre a Idade Média.