Sinopse: Preocupado em se ater ao essencial, o autor quis chacoalhar a massa dos clichês e dos a priori onde se comprazem os enaltecedores dos tempos medievais e todos os que os leem ou ouvem: não! Segundo ele, universidade, os cistercienses, a Hansa teutônica, os estatutos da Arte della lana, ou a Suma de Tomás de Aquino ou a Catedral de Amiens não são a “Idade Média”. Cansado de só ouvir falar de cavaleiros, de feudalismo, de reforma gregoriana, de senhoria banal, a pretexto de que nada se sabe dos outros – mas esses “outros” são os nove décimos da humanidade desses tempos, nesta obra Roberto Fossier se dedicou a tentar percebê-los.
Resenha/Opinião: Escrito pelo historiador medievalista francês Robert Fossier, nesse livro o autor nos apresenta o homem comum ou pessoas comuns da idade média, pessoas essas que eram analfabetas, com pouco acesso aos alimentos e por isso desnutridas, algo que refletia até mesmo em sua massa corporal e altura, ou seja, eram pessoas que destoavam da nobreza e do clero, só que negativamente devido às condições precárias que viviam, aliás, sobreviviam. Diante disso, o modo de vida daquele tempo não lembrava em nada a vida que conhecemos hoje, pois não existia acesso à saúde, educação e até mesmo aos alimentos necessários para ter saúde e qualidade de vida.
Ao longo da leitura o autor não fala sobre os comerciantes ricos, burgueses, monges piedosos ou até mesmo os cavaleiros, que por vezes são personagens irreais e banais, figuras essas que representam uma parte ínfima e superficial da época. O interessante é justamente o foco nas pessoas comuns que geralmente são relevadas ao ostracismo e ao dar esse enfoque Fossier reconstrói um mundo em que as pessoas estão preocupadas com as doenças e com a morte, que os espreita, aliás, muitas doenças tinha a sua origem relacionada com problemas psicológicos, ao menos era essa a crença e tais moléstias eram suficientes para isolar o portador do resto da população, tendo em vista que o mesmo era rejeitado por tudo e por todos.
Entre as doenças mais temidas desse período temos a lepra, essa doença era considerada uma marca, um símbolo do mal e o portador dessa enfermidade era considerado um pecador, um impuro e a rejeição era tão grande que qualquer material tocado pelo leproso era queimado.
Outro aspecto interessante é que a historiografia clássica demonstra o crescimento populacional que ocorreu entre os séculos XI e XV, dessa forma as cidades cresceram, ocorreu o desmatamento de flores, os espaços agrícolas foram aumentando e com isso teve o uso de água para irrigação agrícola, principalmente por causa da multiplicação de engenhos. Diante dessas evoluções a expectativa de vida segundo o autor aumentou de 22 para 35 anos.
“As pessoas da idade média” foi uma leitura esclarecedora e Fossier quebra uma série de mitos, principalmente aquela que caracteriza a Idade Média como uma Idade das Trevas, algo que não foi bem assim diante das evoluções que ocorreram. No final das contas, o ser humano em si não mudou tanto ao longo desses dez séculos, as vicissitudes são as mesmas, ainda há o desejo para melhorar a vida nos mais diversos aspectos. Em suma, Robert Fossier nos apresenta uma visão realista sobre a Idade Média.
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