Sinopse Rocco: Daniel é o reserva do time de futebol da escola, e isso significa que ele é basicamente o garoto da água. Ele gasta todo o tempo dos treinos arrumando e organizando os copos para seu time – e rezando para que ninguém perceba. Na verdade, Daniel passa a maior parte do tempo esperando que ninguém note seus hábitos estranhos – ele os chama de Choques. Eles incluem ter uma lista de números “ruins” e evitar escrevê-los, por exemplo, ou ligar e desligar o interruptor dezenas de vezes até se sentir bem de novo. Daniel acha que é maluco e esconde essa impressão sobre si mesmo, principalmente de seus pais, seu melhor amigo Max e Raya, a garota por quem é secretamente apaixonado. Sua vida fica ainda mais estranha quando ele recebe um bilhete misterioso com um pedido de ajuda assinado pela “Colega das Crianças das Estrelas”, seja lá o que isso significa. E de repente, Daniel, que era um zé-ninguém na escola, se vê dentro da investigação de um grande mistério. (Resenha: Daniel, Daniel, Daniel – Wesley King)
Opinião: O que é ser normal para você?
“Daniel, Daniel, Daniel” foi um dos principais lançamentos do mês de julho da editora Rocco (selo Rocco Jovens Leitores – tradução de Thales Fonseca), uma vez que o romance ganhou o Edgar Award de 2017 na categoria de melhor livro juvenil e também o Silver Birch do mesmo ano. Trata-se de uma obra jovem-adulto (YA) contemporâneo publicado originalmente há cerca de 3 anos (2016) e que aborda o cotidiano de um garotinho com TOC (mesmo que ele ainda não saiba disso). Importante ressaltar que o autor, Wesley King, conta ao final da história que também sofreu, em sua infância, do mesmo problema que seu personagem e, por conta disso, insere uma verdade pungente em seu texto, que o torna digno de todo esse sucesso e reconhecimento da crítica. Essa doença, TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), é um tipo de transtorno de ansiedade que faz com que a pessoa acredite que suas obsessões e compulsões são essenciais ao seu bem-estar, culminando na criação de rituais que, se não cumpridos, causam ainda mais sofrimento. E, tendo em vista todo esse contexto no qual o personagem está inserido, a dedicatória, logo nas primeiras páginas, já adianta uma das mensagens principais que essa história quer passar: ninguém precisa enfrentar o mundo sozinho.
NÓS SÓ ÉRAMOS MALUCOS QUANDO ACHÁVAMOS QUE ESTÁVAMOS SOZINHOS. MAS ENTÃO HAVIA DOIS DE NÓS, E ÉRAMOS PERFEITAMENTE NORMAIS AOS OLHOS UM DO OUTRO. E PARA MIM, NO ESCURO DO MEU QUARTO, ISSO SIGNIFICAVA TUDO.
– Página 276
Não tem porquê me prolongar, então vou ser direto: o trabalho de Wesley King segue os mesmos passos dos seus colegas de gênero ao trazer uma narrativa bem simples e jovial, um ritmo de leitura ágil e um desfecho bem previsível. Porém, ser simples, rápido de se ler e com pouquíssimas surpresas não torna “Daniel, Daniel, Daniel” um livro ruim, até porque me peguei bem investido nessa história, uma vez que se torna muito fácil se conectar com o personagem principal. O fato é que esse livro de 280 páginas aborda de maneira bem inteligente e visceral a trajetória de uma pessoa se descobrindo como portadora de um transtorno ainda muito pouco esclarecido por aí – trajetória, essa é a palavra. Não é difícil se sentir incomodado com tudo o que o personagem sofre. Além disso, o autor se vale de alguns recursos para trabalhar algumas características de seu protagonista e enriquecer seu desenvolvimento. Quer um exemplo? Daniel é aspirante a escritor e, para vencer seus episódios de choque, está desenvolvendo uma ficção científica, cujo protagonista é ele mesmo. Foi uma experiência bem interessante, no mínimo.
CHOREI O TEMPO INTEIRO, MEU CORPO ESTIRADO COM A DOR, E EU GRITANDO EM SILÊNCIO E CAINDO DE JOELHOS, PENSANDO DE VEZ EM QUANDO QUE NÃO CONSEGUIRIA MAIS SUPORTAR ISSO. QUE SERIA MAIS FÁCIL SE EU MORRESSE. MAS TINHA MEDO DA MORTE. TINHA MEDO DE TUDO.
– Página 74
Entretanto, confesso que, na minha opinião, o autor deixou alguns assuntos e situações um pouco subdesenvolvidos – depressão, suicídio, questões familiares. Somado a isso, eu senti um pouco de dificuldade em aceitar os personagens principais assumindo a idade que lhes foi dada – recorrentemente eu precisava me lembrar de que a história que estava sendo contada ali era a de um adolescente de 13 anos, e não de um jovem de 15, 16 anos. Mas, levando em consideração que eu assumi a responsabilidade de ler essa história sabendo o mínimo possível, o saldo foi bem positivo. “Daniel, Daniel, Daniel” é um romance que aborda, além do TOC, as descobertas do primeiro amor, do primeiro beijo, as aventuras em um mundo dominado por criaturas estranhas e, ainda, o futebol americano. Acho que Wesley King marcou um touchdown! Mais do que isso, Wesley King nos oferece uma história de amizade e esperança, além de conscientizadora.
P.S. Se você tiver perguntas ou quiser buscar ajuda para si ou para alguém conhecido, fale com seu médico (que poderá lhe indicar um psiquiatra) ou visite o site da Associação Solidária do TOC e Síndrome de Tourette (ASTOC ST), astocst.com.br. Você não está sozinho!
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