Sinopse Suma: Eles vieram do espaço. Eles vieram de Marte. Com tripés biomecânicos gigantes, querem conquistar a Terra e manter os humanos como escravos. Nenhuma tecnologia terrestre parece ser capaz de conter a expansão do terror pelo planeta. É o começo da guerra mais importante da história. Como a humanidade poderá resistir à investida de um potencial bélico tão superior? (Resenha: A Guerra dos Mundos – H. G. Wells)
Opinião: A Guerra dos Mundos é uma daquelas obras que extrapolam os limites do seu tempo e se eternizam na literatura mundial. Escrita em 1898, portanto fins do século XIX (e devemos nos manter atentos a esse contexto de época durante a leitura), foi a primeira vez em que uma história retratou a Terra sendo invadida por seres de outro planeta.
“Ninguém teria acreditado, nos últimos anos do século XIX, que este mundo era atenta e minuciosamente observado por inteligências superiores à do homem…”
Assim começa a narrativa de Wells sobre como a Terra, mais precisamente a Inglaterra, foi invadida por marcianos na busca de construir uma nova civilização. O narrador, testemunha ocular dos acontecimentos, acompanha minuciosamente o processo de descoberta dos artefatos que caem na Terra, o primeiro contato com as criaturas e, por fim, o caos. A riqueza descritiva da obra é impressionante. O que para alguns pode parecer como ritmo lento ou maçante, nada mais é do que um extremo exercício da criatividade de Wells em imaginar situações, armas, poderios e desfechos para algo jamais discutido na literatura.
Seres de outro planeta, antes colocados como mero coadjuvantes inocentes nas raras histórias em que apareciam, são transformados em vilões por Wells. Vilões com inteligência superior à nossa. Uma civilização marciana com um grau de avanço tecnológico inteiramente desconhecido de nós humanos. E aí temos uma primeira crítica, sutil, sobre a arrogância do homem. Em diversas passagens, a invasão é sempre amenizada porque nós temos o poderio que rapidamente vai afugentar. É preciso muitas páginas para que a humanidade perceba que não tem nenhuma arma capaz de lidar com os marcianos.
Outro ponto marcante é a descrição das criaturas. Aqui Wells molda o estereótipo do marciano, que ficará eternizado em nossa imaginação. As décadas seguintes tratarão de, em livros e nos cinemas, nos apresentar diversos alienígenas, todos, de uma forma ou de outra, derivados, aperfeiçoados ou distorcidos dessa imaginação inicial de A Guerra dos Mundos.
O caos criado pela invasão traz um cenário de perda de civilidade. Raras são as passagens em que vemos as pessoas se ajudando. O panorama geral é o do “cada um por si”, sem muitas preocupações com a vida do outro. Isso resulta num balanço de que o legado dos marcianos possa ter sido uma pequena mudança na visão de vida em sociedade do homem.
A Guerra dos Mundos é uma leitura indispensável para os fãs do gênero e para aqueles que desejam se aventurar pela primeira vez pelos corredores da ficção científica. Ele abre as portas de uma geração que, na mesma época ou nos anos seguintes, nos legou obras únicas como Asimov, Huxley, Orwell, K. Dick, entre outros.
A curiosidade que vale a pena destacar, embora seja de conhecimento geral, é o pânico criado nos Estados Unidos em 1938 quando Orson Welles fez uma transmissão por rádio da narrativa de invasão por marcianos de A Guerra dos Mundos. Os ouvintes acreditaram se tratar de uma notícia real e diversas pessoas buscaram proteção, outras se ofereceram para lutar contra os marcianos e caso virou história.
Finalizando, a edição de A Guerra dos Mundos lançada em 2016 pela Suma de Letras é primorosa e enche os olhos. Em capa dura, com um tratamento editorial caprichado e trazendo as ilustrações originais da obra, é daqueles livros para se ler com cuidado e guardar com todo carinho na estante.
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