Sinopse Companhia das Letras: Transitando entre o gótico, o horror e o terror ― mas sem se afiliar a nenhuma dessas categorias com exclusividade ―, os dezenove contos deste livro reúnem o melhor das histórias de medo. De Machado de Assis e João do Rio a Lygia Fagundes Telles; de Edgar Allan Poe e Robert Louis Stevenson a Stephen King, grandes nomes da literatura mostram ao leitor toda a potência do gênero. (Resenha: Contos Clássicos de Terror)
Opinião: Sou assumidamente um consumidor de contos, estilo tão em desuso atualmente. As narrativas curtas possuem um potencial de encantar, fascinar ou horrorizar tão bom e eficaz quanto um longo romance, com a vantagem de poderem ser lidas ao bel prazer do momento, na ordem que preferirmos, no intervalo entre compromissos ou em viagens. Para um fã do terror, como eu, nada como se entregar aos mistérios de um bom conto, como os clássicos reunidos por Julio Jeha em Contos Clássicos de Terror, da Companhia das Letras.
Já escrevi em diversas outras oportunidades neste espaço que coletâneas de contos costumam ter altos e baixos, com histórias sensacionais e outras nem tanto. Incrivelmente, Contos Clássicos de Terror conseguiu reunir uma coleção de narrativas fora do comum tanto pela sua qualidade quanto peso, carreira e fama dos nomes que a compõe. E como resenhar essas coletâneas em sempre é tarefa fácil, vou prosseguir da forma como tradicionalmente faço, destacando as histórias que mais me chamaram atenção.
Singrando os mares nacionais, é tão bom (re) ver Machado de Assis recebendo destaque pelos contos macabros que escreveu, como em “A causa secreta”, história que investiga o fascínio humano pela dor. Mas nada horroriza, e se encerra com um toque um tanto sarcástico, quanto Lygia Fagundes Telles e seu “Venha ver o pôr do sol”. Conhecido por seus retratos do cotidiano carioca, João do Rio também se aventura pela sensação de prazer que a dor ou a degradação humana causam nas pessoas. Seu conto “Emoções” é uma pequena pérola que dá as mãos ao de Machado para abordarem sentimentos semelhantes através de formas distintas.
No terreno exterior, Contos Clássicos de Terror traz os consagrados mestres do horror Bram Stoker, Edgar Allan Poe, H.P. Lovecraft, Stephen King e Shirley Jackson junto a escritores que se aventuraram pelo gênero como H.G. Wells, Joseph Conrad ou Walt Whitman, por exemplo. Aqui residem algumas obras-primas capazes de horrorizar e provocar estranhos (e deliciosos) incômodos nos leitores. O inédito “Na cripta” de H.P. Lovecraft é claustrofóbico ao mesmo tempo que tem um tom de sarcasmo, a meu ver, na forma como se encerra. “Vovó”, de Stephen King, é perturbador porque quem nunca viveu angústia semelhante ao do garotinho e sua velha avó? Hugh Walpole mostra a vingança do peso na consciência em sua “O tarn”; vingança essa que se soma à soberba em “A selvagem”, de Bram Stoker. Destaque absoluto pelos holofotes que a autora está ganhando atualmente no Brasil, embora não seja a melhor história da coletânea, “A loteria”, de Shirley Jackson é um dos contos mais instigantes sobre o comportamento das pessoas. Parece inocente até se mostrar terrível.
Leitor nenhum sairá impune de Contos Clássicos de Terror. Aqui, o sobrenatural caminha lado a lado ao cotidiano, aos infortúnios do azar ou aos caprichos de um destino implacável que às vezes traz a punição mais rápido do que esperamos. Do inexplicável ao lado obscuro da alma humana, todos os contos têm uma pitada de realidade que certamente nos identificamos. É o mal em todas as suas formas. Para nosso deleite…
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