O TERROR – DAN SIMMONS

Sinopse: O tão aguardado mar aberto era uma armadilha cruel. O Gelo não iria desistir de nós. E a criatura do gelo não iria permitir que escapássemos. A partir dos acontecimentos reais da mais trágica e lendária expedição da Marinha Britânica, Dan Simmons oferece uma combinação magistral de aventura e horror. Sob a liderança do renomado Sir John Franklin, os navios Erebus e Terror deixaram a Inglaterra em 1845 à procura da cobiçada Passagem Noroeste, que liga os oceanos Atlântico e Pacífico através do Círculo Polar Ártico. A Expedição Franklin, como ficou conhecida, contava com uma tripulação de mais de cem homens, os equipamentos mais avançados da época e provisões suficientes para três anos de viagem. Ao entrar na zona polar, no entanto, os navios depararam com o segundo verão consecutivo sem degelo. Logo, acabariam presos nas geleiras ao redor da remota Terra do Rei Guilherme, ao norte do Canadá. Aprisionados num ambiente hostil, os exploradores passam a lutar para sobreviver com alimentos contaminados e uma oferta cada vez menor de carvão e suprimentos, enquanto o gelo e a neve investem contra suas embarcações. Mas o verdadeiro inimigo da expedição pode ser um mal ainda maior: do lado de fora, um predador desconhecido está à espreita, tentando abrir caminho através dos cascos. Quando as primeiras vidas são perdidas, é preciso que novas lideranças surjam entre os sobreviventes para uma última e desesperada tentativa de fuga rumo ao sul. Indicado ao British Fantasy Award e celebrado por leitores e críticos, O Terror une uma pesquisa histórica detalhada ao extraordinário talento narrativo de Simmons, reinventando de maneira original uma das mais fascinantes histórias da exploração marítima no século XIX.

Resenha: Sir John Franklin e Francis Crozier tinham uma importante e perigosa missão para a marinha inglesa: encontrar a passagem noroeste, que traria imensos benefícios ao comércio, pois encurtaria consideravelmente a rota marítima entre a Europa e a Ásia.

Tendo como comandante, Sir John Franklin à bordo de seu HMS Erebus e como capitão do segundo navio, HMS Terror, Francis Crozier, partiram em uma das maiores expedições até então, em busca daquele perigoso local. Sir John estava muito confiante de que conseguiriam encontrar facilmente a passagem e logo estariam de volta triunfantes, ricos e respeitadíssimos tanto pela Marinha como pelo Povo e seus Governantes.

Sir John Franklin já era um homem de certa idade e também fora alvo de piadas anos atrás, quando teve problemas com sua expedição e ficou sem comida. O homem teve que, literalmente, comer seus sapatos e de várias formas. Mas, ele sabia, era um tremendo marinheiro do alto escalão e como confiava em si mesmo e em suas relações, foi designado para aquela importante missão.

Francis Crozier não era do alto escalão, mas era um grande e competente marinheiro de alta patente. Infelizmente, para ele, seu defeito era ser um irlandês entre a alta sociedade inglesa da marinha. Obviamente, mesmo sendo competente, os cargos lhe eram negados ano a ano. Sua história na marinha era impecável, mas como o próprio Sir John Franklin, também fora alvo de piadas quando mais jovem e sob o comando de outro capitão famoso. Mas ele fora designado ao posto de capitão do navio HMS Terror que iria entrar para a história, mas não como pensava.

“As verdadeiras lendas do Conselho do Ártico – a maioria na casa dos 70 anos de idade – eram, para o nervoso Franklin daquela noite, mais como a assembleia de bruxas de Macbeth ou um grupo de fantasmas cinzentos que homem vivos. Cada um daqueles homens havia antecedido Franklin na busca da passagem, e todos haviam retornado vivos, embora não totalmente.”

Apesar da expedição ter tudo para alcançar o sucesso, Erebus e Terror encontram um enorme problema: o gelo. Mesmo com as embarcações reforçadas para enfrentar e destruir o grande vilão da busca pela Passagem Noroeste, mais uma vez o Pólo Ártico vence as máquinas dos homens, deixando ambas embarcações presas naquele gelo impossível de ser transpassado.

É deste ponto em diante que as coisas começas a degringolar para a tripulação de ambos navios. A expedição tem vários problemas que pioram a cada dia, como o frio intenso, a probabilidade de falta de comida e também o terror do escorbuto. Mas as coisas que já não eram promissoras tomam um rumo mais infeliz para todos os marinheiros presos naquele fim de mundo.

Como era de se esperar um expedição foi criada para reconhecimento do local e também na esperança de se ver mar aberto em algum local além daquele ponto em que estavam. Levaram dias para que os escolhidos voltassem com novidades. Mas o problema é que as novidades não eram nem um pouco satisfatórias e além disso, mais tarde todos saberiam que o retorno daquela expedição seria o começo do fim, pois além das notícias eles traziam mortos e um monstro.

“Algo enorme e molhado surgiu entre ele e a luz. A escuridão era absoluta. Seus centímetros de ar respirável de repente foram tomados, substituídos pelo hálito fedorento de carniça sobre seu rosto. Então o fedor úmido o envolveu e dentes enormes se fecharam dos dois lados do rosto, esmagando osso e crânio logo à frente das orelhas dos dois lados da cabeça.”

Opinião: Se você não conhece ou não conhecia o escritor Dan Simmons, não se preocupe, muita gente ainda não o conhece aqui no Brasil. Mesmo seu nome tendo sido alavancado pela série da AMC e disponível no Brasil pela Amazon Prime, Simmons ainda é uma incógnita no meio literário de terror/suspense na terra tupiniquim. Se isso é bom ou ruim, você é quem tem que decidir. Mas, sem dúvidas que eu posso dar uma pequena ajuda nessa sua opinião!!

Dan Simmons teve a brilhante ideia de escolher um fato real e bastante misterioso e romancear toda a história, transformando-a num livro: O Terror. Como vimos, basicamente temos uma expedição que se aventura no meio do nada para tentar encontrar uma suposta passagem que prolonga mais ainda esse “nada” para se conseguir uma economia de tempo, dinheiro e por que não dizer, vidas também, para estreitar os dois oceanos e rentabilizar ainda mais as relações comerciais daquela época. Até aí, nada demais. Porém, Simmons, não se prende apenas aos fatos reais e decide colocar um pouco mais de perigo e também de sobrenatural.

É nessa hora que O Terror nos prende do começo ao fim, pois além de Simmons ter uma escrita muito fluída e aconchegante, sabe colocar uma boa dose de suspense, aventura e, claro, terror em toda o caminho que nossos miseráveis personagens são obrigados a viver. Mas é bom não confundir o título do livro, que dá nome ao navio de Crozier, com o estilo literário, pois não é só de terror que vive nossos personagens.

Além de todo o suspense que envolve a criatura assassina e carnívora que assola nossos personagens, Simmons, também apresenta muitas outras formas de horror e suspense na trama. Mesmo parecendo um pouco cliché, pois em histórias de naufrágios, acidentes aéreos ou qualquer outro tipo de infortúnio em que sobreviventes fiquem com seus provimentos escassos, o canibalismo sempre se apresenta e, em O Terror não foi diferente. Mesmo porque, pelos fatos históricos, essa foi a realidade dos marinheiros que desapareceram naquele ambiente extremamente hostil.

A fragilidade humana é escancarada a todo momento em O Terror, pois Simmons demonstra com destreza todo o desespero de um mundo quase que totalmente inabitável, mas que o homem insiste em tentar desbravar. As situações em que são colocados alguns personagens acaba nos deixando bastante abismados, por saber até que ponto um ser humano pode chegar para tentar sobreviver, mesmo que isso custa a vida de quem quer que seja.

Um ponto interessante de O Terror é que a história não totalmente linear, pois ela vai e volta no tempo e também sob o ponto de vista de vários personagens, como por exemplo, Crozier, Sir John Franklin, Dr. Goodsir, entre vários outros. Mas não se engane em achar que se trata de “mesmas situações sob outros pontos de vista”, pois não é dessa forma que Simmons escolheu o andamento de sua história. Na verdade todos os pontos de vista dão continuidade a trama, sejam indo ao passado, sejam no presente da trama. Portanto, e vejo isso como ponto bastante positivo, não espere ler o acontecimento “X” na visão de vários personagens, pois isso não acontece em nenhum momento.

Outros pontos importantes são apresentados em O Terror como a questão do alcoolismo, muito comum entre os marinheiros daquela época, que era mais uma válvula de escape nas longas e intermináveis viagens náuticas. Simmons também apresenta a questão do homossexualismo e como ele era visto naquela época, principalmente em um navio sob as normas rígidas e convencionais de uma Inglaterra Vitoriana.

Basicamente, O Terror é um livro extremamente bem escrito no gênero ficção história/terror/suspense, que, apesar de suas 752 páginas, todo e qualquer leitor ou leitora que aprecie o estilo vai se pegar dizendo: mas já acabou?! Só por esse detalhe, o Terror de Dan Simmons e publicado pela editora Rocco já é, sem dúvida alguma, uma das melhores leituras desse ano tão sofrido e, claro, é I-M-P-E-R-D-Í-V-E-L.